Enfermeiro que fez plástica em paciente já respondia a inquérito por exercício ilegal da medicina; mulher morreu

Alan Landecker
Alan Landecker

O enfermeiro Alberto Rodrigues da Silva, apontado como responsável pela morte de Erinalva de Jesus Dias, de 37 anos, durante uma cirurgia plástica, já tinha em seu histórico um inquérito que investiga o exercício ilegal da medicina em Turiaçu, a 246 km de São Luís.

A investigação é de julho de 2022 e aponta que Alberto atuava no Hospital Municipal de Turiaçu com o nome de ‘Dr. Guilherme’. Lá, ele realizou uma histerectomia, que é a remoção do útero de uma paciente.

No entanto, a paciente teve vazamento da urina na vagina e passou por uma segunda cirurgia com o ‘Dr. Guilherme’, para uma reparação. Porém, as complicações continuaram e a paciente foi a São Luís fazer exames, no qual foi constatada uma lesão na bexiga.

Por conta do problema, a paciente precisou fazer uma nova cirurgia, no Hospital Universitário, em São Luís, mas até hoje sofre as consequências dos procedimentos feitos pelo ‘Dr. Guilherme’.

Após as investigações, a Polícia Civil descobriu que Alberto usava um documento de registro profissional com o nome um outro médico, chamado Guilherme, mas que ele trocou a foto pela dele.

Por não haver flagrante, Alberto não foi preso. Mas, sobre este caso, a Polícia Civil indiciou Alberto pelo exercício ilegal da medicina e processo segue em andamento na Justiça. Uma audiência foi marcada para o dia 6 de junho, mas Alberto não compareceu.

Morte de Erinalva
Já no último caso, no dia 31 de maio, Alberto teria realizado uma cirurgia plástica que teve complicações na esteticista Erinalva de Jesus Dias, de 37 anos, que acabou morrendo. A cirurgia aconteceu dentro do Hospital Municipal da cidade de Lago dos Rodrigues, a 324,8 km de São Luís.

Para a família, a Erinalva contou que faria uma cirurgia para retirar uma das trompas. Mas, depois das complicações na cirurgia, ela foi encaminhada para o Hospital Regional Dra. Laura Vasconcelos, que fica na cidade de Bacabal, a cerca de 80 km de Lago dos Rodrigues.

Erinalva acabou morrendo no hospital e um médico constatou que ela fez, na verdade, uma abdominoplastia, para retirada de excesso de pele e gordura do abdômen.

“Eu não vou me conformar com isso enquanto a gente não ver Justiça, porque eu quero Justiça. Minha filha não fazia mal a ninguém, minha filha era uma jovem muito alegre”, desabafou Carmelita de Jesus da Silva, mãe de Erinalva.

“Ele tem que pagar. Para que não aconteça com família nenhuma, para que não destrua nenhuma família”, disse Idelvane Santos, viúvo de Erinalva.
A diretora do hospital e os profissionais que estavam de plantão, no dia do ocorrido, já prestaram depoimento à Polícia Civil e afirmaram não saber que o enfermeiro estivesse realizando o procedimento. Alberto teve o contrato rescindido com hospital, após o caso, mas ainda segue com o registro ativo no Conselho de Enfermagem.

“O Conselho Regional de Enfermagem tomou conhecimento dessa denúncia através das redes sociais do fato que aconteceu em Lago dos Rodrigues. Quando tomamos conhecimento sobre o fato, nós já fizemos a abertura de um processo disciplinar”, explicou José Carlos Júnior, presidente do Conselho Regional de Enfermagem do Maranhão.

A polícia agora quer descobrir como um funcionário teve acesso ao centro cirúrgico do hospital, sendo que estava de folga.

“Não adianta a direção do hospital dizer que não tinha conhecimento do fato, o fato é que ocorreu no hospital da cidade de Lago dos Rodrigues. E lá existe uma organização e ninguém entra de qualquer forma e o hospital tem toda a responsabilidade sim”, disse Márcio Rodrigo Coutinho, delegado.

O corpo de Erinalva de Jesus Dias foi levado para Timon, onde vai passar por exame cadavérico que vai determinar as causas da morte dela. Já Alberto ainda será ouvido nesse caso envolvendo a Erinalva.

Em nota, a Prefeitura de Lago dos Rodrigues afirmou que não tinha conhecimento de tal procedimento, assim como a equipe médica de plantão e já rescindiu o contrato com Alberto. A prefeitura também disse que já instaurou um procedimento administrativo para apurar todo o ocorrido e que o caso se tratou de “uma ocorrência isolada”.

Ainda de acordo com a gestão municipal, o hospital “já está se cercando de todas as precauções para que situações como estas não venham mais a ocorrer. E a prefeitura tem colaborado com todas as investigações e prestando apoio à família da vítima”, diz a nota.

A Prefeitura de Lago dos Rodrigues também foi questionada sobre a razão de ter em seu quadro de servidores um enfermeiro investigado por exercício ilegal da medicina, desde 2022, em Turiaçu. No entanto, a gestão disse apenas que ‘não tínhamos conhecimento deste caso’.

A defesa de Alberto Rodrigues também foi procurada para falar sobre as acusações da Polícia Civil e a investigação em Turiaçu, mas não foi encontrado.

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