Médicos alertam sobre testes para diagnosticar diabetes gestacional

Max Dias Lemos
Max Dias Lemos

Grávidas devem fazer os testes até a 14ª semana para diagnosticar a doença e prevenir complicações na mãe e no bebê, recomendam pesquisadores. Os exames são realizados depois de 24 semanas

Antecipar os testes de identificação do diabetes mellitus gestacional (DMG) para menos de 14 semanas de gravidez é o caminho para prevenir eventuais complicações provocadas pela doença na mãe e no filho. É a conclusão de uma nova revisão científica publicada na revista The Lancet. A equipe internacional de cientistas desafiou a abordagem atual ao DMG, que se concentra a partir da 24ª semana ou mais, e defendem a realização do exames da condição com uma abordagem personalizada e integrada ao longo da vida para pacientes que têm ou podem desenvolver a patologia.

O artigo ressalta que a condição é a mais comum na gestação e atinge 14% das mães. Conforme o excesso de peso e as outras condições metabólicas avançam, mais mulheres em idade reprodutiva enfrentarão problemas relacionados à glicose e insulina, o que aumenta os risco de complicações durante na gravidez, e outros problemas de saúde mais tarde na vida, como diabetes tipo 2 e condições cardiovasculares.

“Nossa nova série enfatiza a necessidade urgente de uma grande mudança na forma como o DMG é diagnosticado e tratado pela primeira vez, não apenas durante enquanto o feto está no ventre, mas ao longo da vida das mães e de seus bebês”, frisou o líder da pesquisa, David Simmons, professor da Universidade Western Sydney, na Austrália.

Simmons acrescentou que: “O DMG é uma condição cada vez mais complexa e não existe uma abordagem única para gerenciá-lo. Em vez disso, os fatores de risco e o perfil metabólico únicos da paciente devem ser considerados para ajudar a orientá-las na gravidez e apoiá-la depois”.

De 30% a 70% das pacientes com DMG apresentam hiperglicemia desde que o embrião começa a se desenvolver, antes mesmo das 20 semanas. Os casos podem ser detectados precocemente por meio de testes orais de tolerância à glicose. Essas mulheres têm mais problemas de saúde em comparação com aquelas em que o diabetes aparece mais tarde.

A condição também eleva os riscos de estresse, depressão e ansiedade. Tradicionalmente, a condição é considerada uma complicação que requer cuidados com os níveis elevados de glicose no sangue no final do segundo trimestre. Os atuais critérios de diagnóstico da Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendam testes entre 24 e 28 semanas.

Qualidade de vida
Novos trabalhos, avaliados pelos autores da revisão, mostraram que entre mulheres com DMG precoce, a identificação e o tratamento antes das 20 semanas de gestação não apenas reduziram as complicações da gravidez e pós-parto, incluindo desconforto respiratório neonatal e tempo de permanência em UTI neonatal, mas melhorou a qualidade de vida enquanto carregavam o bebê no útero, além de estimular a amamentação, o que pode reduzir a probabilidade obesidade, DM2 e outras condições a longo prazo.

Raiane Wentz, jornalista e empresária, de 27 anos, mãe de um menino e à espera do segundo bebê, descobriu o diabetes gestacional nos primeiros exames que fez para avaliar a saúde na nova gravidez. “Foi um choque, no começo passei muito mal, não conseguia comer e acabei consumindo muitas frutas para o enjoo passar. Descobri assim que fiz a primeira consulta, aos três meses.”

A empreendedora detalhou que, ao ver alguns parâmetros alterados nos testes, procurou sua médica que orientou adotar alimentação saudável e rotina de exercícios físicos. Agora com a condição controlada, ela se sente aliviada.

“Sinto que a agilidade foi crucial porque além de me acalmar, estou mais livre. Não esqueci o diagnóstico, mas ter ficado esse tempo sem açúcar melhorou tanto os sintomas da gestação, quanto o meu bem-estar. Eu me sinto mais disposta, esse controle só me trouxe ganhos”, afirma Raiane.

Cristina Façanha, endocrinologista da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e diretora do Centro Integrado de Diabetes e Hipertensão do Ceará, destaca que, durante a gravidez, em razão dos hormônios produzidos pela placenta, a tolerância à glicose da mãe se modifica.

“Quanto maior a produção desses hormônios placentários, maior a resistência à insulina e mais difícil a atuação adequada do metabolismo materno. O tratamento sempre tem que ser muito individualizado para cada condição”, alerta a médica.

Cesarianas
Ao avaliar gestações mais avançadas e sem o tratamento adequado para o diabetes, os pesquisadores descobriram que a condição estava associada a riscos maiores de parto cesáreo, 16%, prematuro, 51% e bebê grande para idade, 57%.

Estudos anteriores, que avaliaram a necessidade de insulina para tratar a condição, descobriram que ela estava associada a uma chance duas vezes maior de internação em unidade de terapia intensiva neonatal.

Mulheres com DMG têm ainda um risco 10 vezes maior de diabetes tipo 2. Elas também são mais propensas à hipertensão, dislipidemia, obesidade e gordura no fígado, com chances duas vezes maiores de doenças cardiovasculares.

Jamilly Drago, endocrinologista da clínica Metasense, em Brasília, ressalta que o primeiro passo para o diagnóstico precoce da condição é mudar a diretriz.

“Isso vai criar um novo hábito no clínico de atenção primária, endocrinologista e no próprio obstetra para solicitar esse exame um pouco antes do que estamos acostumados. Só vejo vantagens em saber da doença quanto antes para podermos tratar e acompanhá-la.”

A especialista diz que o diagnóstico precoce colabora para preservação da saúde e a garantia de qualidade de vida. “As condutas não farmacológicas são a maior riqueza que temos. Muitas mulheres ao fazer só o tratamento não farmacológico, que envolve dieta saudável, acompanhamento médico e exercício, não precisam evoluir para a medicação”, ressalta Jamilly Drago.

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